4.3 A Relativa Importância do Autoconhecimento


A sociedade ocidental tem muitas coisas há fazer o tempo todo e acredita que fazendo algo consiga aplacar a verdade e a angustia anterior. Como já explicitado no Livro 1*, a paz não é interessante ao consumo.

Outra falsa noção vinda desta mesma sociedade e a que os filhos umbandistas ou não devem ficar atentos ao dito “autoconhecimento”, como se possível fosse afastar provas, erros e quedas somente com uma analise interna, uma grande dose de esforço e com a feitura de algo o tempo todo.

Pensem filhos que se dependessem de uma auto-analise os problemas e dificuldades e se todas as barreiras fossem enfrentadas quando há atividade então os trabalhadores contumazes e os filhos entendidos da psique humana teriam suas vidas profundamente facilitadas, porque os primeiros estão sempre fazendo algo e os segundos conhecem os desígnios da mente que domina o corpo.

Por obvio não é assim e esta é outra idéia errônea amplamente difundida na sociedade ocidentalizada como se possível fosse tomar nas mãos o destino e transformá-lo com a força do pensamento ou a força do agir.

É claro que os pensamentos devem ser incansavelmente cuidados para que não atraiam formas de energias não condizentes com o bem. É claro também que o filho deve sempre fazer o possível em sua caminhada para conseguir ir o mais distante e conseguir a maior evolução disponível.

Mas isso não quer absolutamente dizer que os filhos ao dominarem mente, espírito e vontade terão encontrado a chave para a paz e a evolução. Isso não depende do autoconhecimento, mas sim o entendimento de que existem limites e provações, que, de um modo ou de outro terão de ser enfrentadas, por mais perfeito, controlado ou ativo seja o filho.

As provações levam a evolução e os tombos também. Portanto não é o autoconhecimento que ira evitá-los posto que eles são inevitáveis a toda alma encarnada. O objetivo da encarnação do espírito como anteriormente já dito é a evolução. Se não houvesse necessidade de evoluir o filho não estaria encarnado A Inexistência de encarnação não significa não evolução, mas a encarnação é necessidade evolutiva.

E a evolução ocorre na grande maioria das vezes pelos tombos que se apresentam no meio do caminho. E não basta o simples autoconhecimento ou a incansável batalha pela perfeição para que haja evolução. Em algumas vezes elas não são somente desnecessárias como também atrapalham a evolução.

Existe tempo de rir, mas também há tempo de chorar. E se a alma precisa chorar é essa a realidade que ira se apresentar ao filho por mais preparado que esteja para as adversidades. O autocontrole é uma armadilha na qual podem os filhos facilmente cair, achando que quando ele é inexistente, tem-se fraquezas de caráter. Como se fosse a fraqueza ou fortaleza do caráter que determinasse o estado de evolução da alma.

Filhos que precisam evoluir (e todos os filhos encarnados precisam) não terão as provações retiradas do caminho pela fortaleza ou não de seu caráter.

Os filhos que mais erram são aqueles que se acham tão plenos e confiantes de seu caráter e de sua autodeterminação que não aceitam de bom grado as dificuldades que todas as almas que passam pela terra são submetidas. Se acham acima do bem ou do mau, acima de qualquer desvio de caminho. A soberba aqui é tão tamanha que muitas vezes terão que cair não uma, mas inúmeras vezes para aprenderem que contra os desígnios da alma força nenhuma pode se sobrepor.

Quando há necessidade do aprendizado e do conhecimento independe o grau de caráter ou a sua força, como independe também a força de vontade e o fazer eterno, que somente tumultua e deixa de ouvir os reais objetivos da encarnação.

Às vezes é preciso que o filho simplesmente pare e entenda que há tempo de rir, mas também há tempo de chorar e que não lute contra isso, mas entenda que esse tempo faz parte de um mesmo caminho. Que não é o filho ignorando a dor que a tranqüilidade se fará presente. A sociedade ocidental vende em vidros garrafadas de auto-ajuda, auto-comportamento, riqueza e felicidade como se os remédios para a alma pudessem ser resumidos e engarrafados.

Filhos parem e pensem quantas vezes simplesmente precisaram aceitar o que a vida lhes ofereceu sem poder lutar contra. E o não fazer aqui é a inteligência daqueles que conseguem viver com a necessidade de aprendizado. Saber que é necessária a queda e que muitas vezes o mais correto é permanecer no chão ate que seja a hora de levantar é clarividência que pouquíssimos filhos possuem.

Sempre querem ter opções, escolher os caminhos, como se tivessem o poder sobre o bem e o mau, como se suas escolhas fossem as corretas sem que se respeite o tempo do espírito em aprender. Quantas vezes filhos já não se depararam com situações nas quais atadas estão mãos e pés e ainda tentam fazer sobreviver as palavras. Mas Oxalá é sábio e se necessário for também fará essas cessarem ate que a alma encarnada reconheça a humildade da sua escolha em frente ao Universo e finalmente se curve aos desígnios divinos.

Filho fazer é sempre bom quando o tempo é esse, mas passar por cima de sua própria evolução para evitar sofrimento e dores é errado. Fazer no momento impróprio é muito mais errado do que aceitar sua condição e aprender com ela da melhor forma possível.

Em muitas vezes o tempo é apenas de observar e nada fazer, o tempo é apenas de aprender e entender que não bastam atitudes positivas e bem sucedidas para que o sucesso se faça presente. É muito mais que isso a evolução. É o entendimento que nem as mais poderosas entidades poderão deter a lei do Karma quando a paga tiver que se fazer presente.

Se nem estas entidades poderão deter as conseqüências e efeitos, de que poder se acham os filhos dotados para pretenderem mudar esse fato? Por obvio, como encarnados devem entender e principalmente aceitar as provações.

Não adianta querer que não haja dor, quando o tempo é de dor. É como pretender que a natureza não traga a chuva quando o tempo é de chuva. É tentar fazer com que um guarda chuva proteja a terra da tão necessária água. Não ira, por obvio, funcionar.

Quando o tempo for de colheita serão sempre bem vindas todas as atitudes e autodeterminações que devem se fazer presentes, mas quando o tempo é de renovação da terra, somente cabe ao filho esperar e orar para que a chuva molhe o chão e que, no tempo correto e da forma determinada por Oxalá se faça nova colheita.







“Corri e cai, andei e cai, me arrastei e cai.
Hoje somente meus olhos podem acompanhar aquilo que um dia foi movimento.”

* - Livro: Umbanda para a Vida: Primeira Leitura dos Fundamentos Umbandistas, página 41, A Visão da Eternidade.