2.7 Prantos de Oxum


Oração a Oxum:
“Se Oxum pudesse me ouvir agora
talvez duvidasse da minha fé,
talvez não entendesse minhas dúvidas e teria pena.
Mas Oxum não pode me ouvir enquanto não conversar.
Oxum não pode me ouvir, mas peço agora de coração
Que Oxum seja minha mãe e me proteja”




Oxum é o Orixá da beleza, da tranqüilidade da verdade. Oxum consegue antes de tudo dizer que o caminho pode não ser fácil, mas deve sempre ser belo.

Porque a tranqüilidade e a verdade do coração, sempre transformam os atos, em beleza. O amor é belo, a verdade também. E Oxum consegue entender que na beleza não há futilidade. Que a beleza de um sentimento é uma das forças que magnetiza e envolve almas, encarnadas ou não.*

Oxum é o Orixá da abundancia, do ouro, das águas doces. E como elas, pode brilhar, levando consigo a sujeira, a lama. Polindo as gemas que se encontram abaixo das pedras, trazendo a luz ao meio do caos.

Os trabalhos dirigidos a Oxum, são aqueles que precisam de luz para que se realize a limpeza, para que o caos e a destruição não se apresentem tão duros nem tão devastadores.

São trabalhos em que é necessário enxergar um rasgo de sol na escuridão, para que não se veja apenas a tristeza, a dor, mas também o belo, mesmo em uma situações onde desespero e dor se façam presentes e pareçam únicos.

Oxum auxilia aos filhos a encontrar no desespero um motivo para sorrir, que possam entender que a beleza faz parte das situações mais terríveis e que sempre um rasgo da bondade estará presente.

Demonstra que a realidade apesar de dura, pode ser bela e que o magnetismo do bom e do belo é maior do que qualquer vibração de dor. Ilumina os locais para que os filhos possam ver a beleza dos cantos mais escondidos, para que possa entender que sempre haverá dois lados e que um deles, por menor que seja é belo.

Para que os filhos possam perceber que apesar de seus defeitos são lindos, que apesar de suas quedas, ainda permanecem íntegros, que a beleza está principalmente na alma.

Por isso Oxum chora muitas vezes, porque a beleza do puro se perde, porque a força do belo se esconde pelas lamas e que aqueles que mais precisariam da organização só enxergam o caos.

Porque não basta apenas abrir os caminhos é preciso também iluminá-los para que se tornem brilhantes. Como a pedra, que no rio de tanto rolar, de tanto ser desgastada pelo tempo, pelas águas, mostra seu lado mais perfeito, sua forma mais bela.

Desgaste e dor se tornam lapidações. De suas várias faces a mais perfeita se apresenta e então, brilha com o alvorecer e pequenos pedregulhos se tornam lindas pepitas.

Oxum limpa a lama e mostra a beleza do desgaste. A perfeição de uma jornada árdua.

Quando houverem dúvidas de que o caminho esteja valendo à pena, ou quando se busca a luz na escuridão, quando a lama precisa ser levada dos rios ao mar, então a força de Oxum deve se fazer presente.

A força da limpeza que traz o movimento e a continuação. Que limpa a lama e arranca com força as raízes mais bem sedimentadas, se assim for necessário.

Trabalhos para afastar ódios ou para que se enxergar mesmo no inimigo alguma faceta da verdade e então, não odiar tanto. Para trabalhos onde se faça necessária a limpeza do movimento, para que se demonstre e apareça o belo e a tranqüilidade daquilo que até então era somente escuridão.



“Lembro quando chorei porque não mais conseguia enxergar meu rosto lembro que nada adiantaram as lagrimas, e que não houve forma de novamente conseguir entender que a minha imagem se escondia nelas. Então parei de chorar e consegui enxergar. Minha face continuava ali, bela e serena. Mas as lagrimas, essas tinham sido levadas por Oxum. “


* - Livro: Umbanda para a Vida: Primeira Leitura dos Fundamentos Umbandistas, página 93, O Equilíbrio e as Sete Linhas.